Foram quatro internamentos no Júlio de Matos e à cerca de 20 anos atrás passaram-se coisas que nunca vou esquecer. 

De manhã tinhamos de tomar banho com água fria, vestiamos farrapos que nos obrigavam a vestir. Às refeições obrigavam-nos a comer mesmo que nos espectassem os garfos pelas boca abaixo. Tratávam-nos mal, do pior, não tinham respeito nenhum e por vezes ficávamos trancados nos quartos sem casa de banho. Gritavam connosco como se tivessemos culpa de sermos doentes.

Quem está num internamento psiquiátrico no Júlio de Matos não sai de manheira nenhuma do hospital, portas fechadas, as janelas estão fechadas, trancadas e com ferros como uma prisão. Os doentes andam de um lado para o outro num espaço pequeno com as pernas presas, o corpo pesado e a cara numa lástima derivado aos medicamentos. Quando anos muito mais tarde tive direito a vir ao jardim do hospital com a família percebi e soube o que é estar numa prisão. Sei dar valor às coisas mais insignificantes da vida porque já fui privada de muita coisa.

Não somos malucos, somos doentes e tu também te pode acontecer o mesmo. Qualquer pessoa pode ficar derrepente com uma doença mental.

Respeitem e não falem do que não sabem. Se querem humilhar e mal tratar quem é tão infeliz por ser assim, merecem o mesmo ou pior na sua vida. Parem de nos compararem com política e falarem da esquizofrenia como se fosse um defeito, não temos culpa de ser o que somos e pode acontecer a qualquer um.